quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Songs of yesterday


Olá amigos e apreciadores do rock e das boas coisas dos anos 60, 70, 80... Após uma longa ausência, voltamos – e, enquanto a prometida matéria sobre a fase obscura do Black Sabbath não sai, vamos relembrando alguns momentos da memória visual do rock – flyers, matérias etc, lembranças de uma época pré-internet na qual a informação era escassa, rara, vital! Detalhe: essas preciosidades não foram garimpadas na web, mas nas nossas próprias coleções! E se você quiser contribuir, mande scans das imagens  para o nosso e-mail; o endereço é blogcrossover@gmail.com!

A casa da sogra do Sabbath



Fofinho Rock Club detonando no metal


Made in Brazil na Led Slay



Gostou? Mande as suas!

Barão

terça-feira, 24 de abril de 2012

Dica do dia: Caught in the Act (Grand Funk Railroad)




Nos tempos pré-históricos, quando até mesmo as bandas pop, que só queriam fazer sucesso nas paradas, eram extremamente roqueiras, uma se destacou. Inicialmente um power-trio, o Grand Funk Railroad foi extremamente massivo no início dos anos 70, embalando festinhas e, ao mesmo tempo, sendo bastante admirado pelas outras bandas devido ao apuro técnico de seus integrantes. 


Um dos melhores termômetros para se verificar essa qualidade dos músicos são os registros ao vivo - que, na década de 70, viraram verdadeira mania, e incluem clássicos incontornáveis como Made in Japan (Deep Purple), entre tantos outros. Mas nesse campo o GFR foi pioneiro: eles  já haviam lançado seu Live Album em 1970. Mas foi apenas em 1975, no auge, que a banda soltou seu melhor petardo ao vivo: Caught in the Act


O disco, originalmente duplo, dá uma grande volta em torno não apenas dos sucessos como The Loco-Motion, Heartbreaker, Rock And Roll Soul, Shinin' On e Closer to Home, mas também abre espaço para duas pérolas: Black Licorice e The Railroad. Ele reproduz fielmente a ordem em que as músicas eram apresentadas na turnê daquele ano e, graças à boa qualidade sonora, traz para o século 21 um pouco do que era a experiência de se ver o Grand Funk ao vivo. 


Recomendado. Se for atrás, procure a versão remasterizada; além do som melhor, ela recupera o solo de bateria de T.N.U.C., que havia sido encolhido na primeira versão em CD. 


Faixas:
01. Introduction
02. Footstompin' Music
03. Rock And Roll Soul
04. Closer To Home
05. Heartbreaker
06. Some Kind Of Wonderful
07. Shinin' On
08. The Loco-Motion
09. Black Licorice
10. The Railroad
11. We're An American Band
12. T.N.U.C.
13. Inside Lookin' Out
14. Gimme Shelter


Sérgio Siscaro





sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Os clássicos não são tudo de uma banda


Há bandas que, por mais que tenham tido uma longa existência, ficam marcadas por formações clássicas. No caso do Deep Purple, os fãs tendem a considerar apenas aquelas que tiveram nos vocais Ian Gillan, relegando a fase de David Coverdale meio como secundária. Os admiradores do Black Sabbath escolhem ou Ozzy Osbourne ou Dio - que também é sempre considerado "a voz" do Rainbow. No Van Halen, só vale o Dave Lee Roth. E por aí vai...

O que muitos fãs acabam deixando de notar é que, mesmo nas outras fases de suas bandas preferidas - algumas delas beeem ruins, com vocalistas inadequados, canções não tão inspiradas etc - há pérolas escondidas. Apesar da apatia de períodos de baixa popularidade, muitas vezes apareceram músicas bem interessantes, e contribuições valiosas dos músicos que, via de regra, foram esquecidas pela história. Tanto que, na onda já não tão nova assim de retorno de grupos dinossáuricos, a tendência predominante é que se toquem sempre as canções da fase que tem mais apelo junto ao público. O resto da produção não é nunca executado ao vivo, e mesmo os relançamentos em CD são, às vezes, escassos.

Um caso clássico disso é o Rainbow. Formado em 1975, quando o enfezado guitarrista Ritchie Blackmore se encheu do Deep Purple e saiu, o grupo lançou quatro discos que foram canonizados como clássicos, e que representam a banda em sua melhor forma - todos com Ronnie James Dio no microfone. Eles incluem a estreia Ritchie Blackmore's Rainbow (1975), o elétrico Rising (1976), o ao vivo On Stage (1977) e o canto derradeiro de Long Live Rock'n'Roll (1978). Clássicos como "Kill the King", "Still I’m Sad" (não a versão do Yardbirds; esta viria depois), "Long Live Rock'n'Roll", "Stargazer", "Man on the Silver Mountain" são realmente imortais. Mas... e depois?

Com a saída de Dio, Blackmore achava que era necessário fazer sucesso nos Estados Unidos. Para isso, entrou na onda então predominante do Adult-Oriented Rock (AOR) - ou seja, músicas sem tanto punch, mais redondinhas para tocar na FM. Para isso, chamou o hit-maker Russ Ballard (do Argent) para contribui com as letras, e colocou nos vocais o desconhecido Graham Bonnet para ser a nova voz do Rainbow em Down to Earth (1979).

O primeiro disco sem o elfo Ronnie James Dio

O resultado? Claro que não se compara com a fase Dio. Há baladas muito melosas, e refrões chicletentos em profusão. Mas também há bons momentos. "Lost in Hollywood" tem uma pegada legal; "All Night Long" e "Eyes of the World" são matadoras. Uma ótima canção que acabou ficando de fora desse registro é "Bad Girl", que só apareceria anos depois na coletânea Finyl Vinyl (1986). Nela, Bonnet consegue impor uma certa garra na música, que ainda tem um DNA roqueiro, apesar da intenção AOR.

Bonnet, apenas um registro

A seguir viria um vocalista odiado pelos fãs tanto do Rainbow quanto do Deep Purple: o norte-americano Joe Lynn Turner. Com a equipe (ou as equipes, já que os integrantes do grupo viviam sendo mudados pelo chefão Blackmore), ele gravou Difficult to Cure (1981), Straight Between the Eyes (1982) e Bent Out of Shape (1983). Mais tarde ele substituiria Ian Gillan no reformado Deep Purple para gravar Slaves & Masters (1989), considerado por alguns fãs como uma continuação do Rainbow; afinal, tinha três integrantes da última formação – Turner nos vocais, Blackmore na guitarra e o baixista-produtor-pau-para toda obra Roger Glover.

Hora do exame... do novo vocalista!

A tendência de músicas melosas continuou e até aumentou, mas passado o primeiro disco - que ainda tinha canções pensadas em Graham Bonnet como vocalista, como "I Surrender" (novamente de Russ Ballard) o novato engrenou nos discos seguintes. Canções como "Death Alley Driver" (e seu clipe hilário, com Mr. Blackmore personificando a Morte), "Stone Cold", "MISS Mistreated", "Rock Fever", "Stranded", "Fire Dance", "Desperate Heart" e mesmo a baladinha de videoclipe "Street of Dreams" podem ser considerados momentos bem interessantes da história da banda.


Chega o "spotlight kid"

Blackmore também oscilava entre pegadas preguiçosas (e às vezes até recicladas de outras músicas suas) e a criação de grandes riffs. "Stone Cold", por exemplo, começa com uma guitarrinha meio simplória, mas vai aumentando sua participação na música. O mesmo acontece em outra faixa do mesmo disco, "MISS Mistreated". E há também, claro, as mostras de virtuosismo clássico de Blackmore que influenciariam tantos guitarristas dos anos 80 e 90, como em "Vielleicht Das Nächste Mal (Maybe the Next Time)" e "Difficult to Cure", por exemplo.


Grandes canções, grandes performances do Mr. Zangado...

O disco de 1983 foi o fim do Rainbow, uma vez que o Deep Purple retomou suas atividades no ano seguinte. Mas isso só duraria até 1993, quando o ainda enfezado Blackmore voltou a pedir as contas. E voltou com o Rainbow, desta vez tendo como vocalista Doggie White. O disco resultante, Stranger in Us All (1995), conseguiu ser talvez o melhor da banda sem Dio; afinal, a preocupação com o sucesso das FMs já não era um fator relevante. Belas canções, como "Ariel", ao lado de momentos interessantes (às vezes em uma levada meio Dio), como "Wolf to the Moon", "Hall of the Mountain King" e "Still I’m Sad" (essa sim, cover do Yardbirds). Grande álbum, injustamente esquecido.

O canto do cisne

Depois disso, o fim. Blackmore continua na ativa no Blackmore’s Night, e Joe Lynn Turner faz seus shows solo com canções da época do Rainbow. Uma possível volta das formações não-tão-clássicas é sempre possível, mas nada provável – uma volta do zangado ao Deep Purple, ainda que remota, é menos absurda.

No próximo post será focada a história do Black Sabbath sem Ozzy e Dio.

Sérgio "Pirata" Siscaro

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O mapa do metal


O rock é um mundo completo – e, como tal, tem seus continentes, seus oceanos, cidades perdidas, metrópoles da moda ou cafundós. Quem desembarca nesse planeta precisa de uma bússola, de um mapa – sob pena de se perder no caminho, ou ir parar na Terra dos Emos ao invés de ir à Punklândia, ao Reino do Pop ou aos Estados Unidos do Metal. Esse último, inclusive, tem um elevado grau de complexidade, com inúmeros estilos – e também demanda algum tipo de guia para o explorador iniciante.


O meu mapa foi o Livro Negro do Rock. Escrito por Leopoldo Rey (que mais tarde apresentaria programas na saudosa 97 FM, de Santo André) e Gilles Philipe, o livro havia sido lançado em fascículos na primeira metade dos anos 80, e na época veio uma edição em capa mole trazendo toda a obra. Como eu perdi o livro nessa época, só pude comprá-lo no inicio da década seguinte, quando ele (e outros velhos lançamentos da Editora SomTrês) foram distribuídos nas bancas de jornal como encalhe.


É verdade que as informações estavam com uma defasagem de pelo menos oito anos. Muita água havia rolado embaixo da Ponte do Metal, bandas que surgiram, bandas que acabaram, promessas que não se concretizaram... Mesmo assim, foi a porta que me mostrou como haviam várias bandas legais por aí, e como seus integrantes iam de uma para a outra... Nas época, eu estava começando a descobrir os links entre Deep Purple, Black Sabbath, Rainbow e Whitesnake, por exemplo; depois do livro, comecei a ver a cena rock como algo mais orgânico, mais integrado.


Além disso, o livro é um retrato da época em que o rock ainda não havia se fossilizado em “classic rock” como hoje – o cenário era formado por bandas que tinham algo a dizer, como as da (então) recente nova onda do metal britânico, ou NWOTBHM (Iron Maiden, Saxon, Venom), e não por grupos que copiam grandes sons do passado... E os próximos anos também foram bem criativos: o Livro Negro do Rock foi publicado pouco antes da explosão do Thrash Metal, tanto nos EUA (Metallica, Anthrax, Slayer) quanto na Alemanha (Kreator). Também não havia ainda aquela tendência das “voltas caça-níqueis; o Deep Purple, por exemplo, só retomaria as atividades em 1984 – e, na época do livro, três de seus integrantes seguiam com o Rainbow.


Aliás, vale lembrar algumas bandas que lançaram naquele distante ano de 1983 alguns discos hoje considerados clássicos (olha essa palavra de novo!), só para dar uma ideia do contexto no qual o livro saiu (lembrando sempre, claro, que muitas vezes os discos levavam décadas para aportar aqui no Brasil). Alguns não são puramente metálicos, mas tiveram sua cota de influência sobre o gênero: AC/DC (Flick of the Switch), Accept (Balls to the Wall), Black Flag (Everything Went Black), Black Sabbath (Born Again), Death Angel (Heavy Metal Insanity), Def Leppard (Pyromania), Dio (Holy Diver), Iron Maiden (Piece of Mind), Mercyful Fate (Melissa), Metallica (Kill'Em All), Mötley Crue (Shout at the Devil), Motörhead (Another Perfect Day), Ozzy Osbourne (Bark at the Moon), Quartz (Against All Odds), Quiet Riot (Metal Health)Rainbow (Bent Out of Shape), Ramones (Subterranean Jungle), Savatage (Sirens), Suicidal Tendencies (Suicidal Tendencies), Thin Lizzy (Thunder and Lightning ), Twisted Sister (You Can't Stop Rock 'n' Roll), Tygers of Pan-Tang (Spellbound), UFO (Making Contact), Van Halen (1984), Venom (At War With Satan) e Witchfinder General (Friends of Hell).


E o texto, então? Gostoso de ler, apesar de ter lá seus erros. Mas vá lá, temos de levar em conta o quanto era difícil o acesso à informação 30 anos atrás – sem internet, sem facilidade para comprar livros ou jornais gringos... Diante das circunstâncias, o produto final é bem caprichado, e tem um lugar de honra em qualquer estante de quem conheceu o rock nos anos 80!

terça-feira, 26 de julho de 2011

A balada dos vagabundos da Ilha Esmeralda


Há discos que definem os rumos futuros de uma banda - mas cuja importância só fica evidente anos e anos depois. O Thin Lizzy, banda irlandesa dos anos 70 e início dos 80, ficou mundialmente famosa ao combinar hard rock a um certo boogie, e deixou clássicos como The Boys Are Back in Town, Jailbreak, Rosalie, Emerald, Don't Believe a Word e tantos outros. Mas as sementes do estilão que daria o sucesso ao grupo apareceram pela primeira vez de forma mais consistente no terceiro álbum.

Gravado em 1973, Vagabonds of the Western World ainda é visto como um disco secundário do Thin Lizzy, apesar de ter The Rocker e Whiskey in the Jar, os dois primeiros grandes sucessos da banda (embora esta última tenha saído na época apenas em single, e depois teve uma versão incluída no CD). Mas o ouvinte atento descobrirá pérolas tão ou mais preciosas que essas duas. A faixa-título, por exemplo, combina misticismo celta (tão caro ao vocalista Phil Lynott) à sonoridade da banda, antecipa Emerald em uns três anos e dá margem ao virtuosismo guitarrístico de Eric Bell - que, infelizmente, deixou o grupo após este disco. Slow Blues também antecipa várias baladas de "blues pesado" que a banda faria nos anos seguintes. E a capa? Mais uma obra-prima de Jim Fitzpatrick!

O disco marca também o final da primeira fase do Thin Lizzy, iniciada com o álbum epônimo, em 1971, e que prosseguiu em 1972 com Shades of a Blue Orphanage. Era a época em que o trio, formado por Lynott, Bell e o baterista Brian Downey, batalhava um lugar ao sol, e conseguia ampliar seu público após se mudar para Londres e abrir os shows do Slade. Depois de Vagabonds of the Western World, a banda passaria a ter dois guitarristas e faria seus discos mais conhecidos, que compõem sua segunda fase: Nightlife (1974), Fighting (1975), Johnny The Fox (1976), Jailbreak (1976) e Bad Reputation (1977).

Uma dica: ao procurar Vagabonds of the Western World em CD, opte pela versão europeia de 2007, dupla. Ela traz várias faixas-bônus, lançadas em compactos na época ou apenas em coletâneas (como a insuperável Sitamoia), além de versões promocionais para rádio e aparições em programas da BBC. É verdade que essa edição não contém Whiskey in the Jar na versão de 5:45, que vinha no CD lançado na década de 90; essa faixa acabou sendo incluída na versão remasterizada de Shades of a Blue Orphanage.

Sérgio "Pirata" Siscaro

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Em busca dos bons sons


Logo que começamos a nos entender por gente, começamos a nos questionar quanto a muitas coisas – e uma delas é a música. Se a pessoa já dispõe de uma base sobre o que são os bons sons, ou então se relacionar com pessoas que lhe apresentem as indispensáveis pérolas do bom e velho rock’n’roll, o caminho já está traçado!

Quando compramos nosso primeiro disco, geralmente a escolha é feita por influência de alguém, ou algum elemento da capa, ou um som ouvido no rádio. Mas o acaso também pode contribuir; este foi o meu caso, quando um vinil veio trocado e acabei conhecendo o ótimo Slade Alive (1972), do Slade. Coloquei o disco na vitrola e fui sugado ao mundo do rock – seja por meio dos bolachões de vinil, das fitas cassete, das fitas em VHS e, mais tarde, pelo CD ou DVD, e agora dos arquivos em MP3, e por aí vai... Toda essa introdução serve para começarmos a falar do prazer que o verdadeiro roqueiro tem em ir atrás do que gosta e garimpar raridades – e não ficar atrás de modinhas do momento, ou colecionar apenas por colecionar.



Começamos a analisar as musicas, devoramos revistas especializadas em rock e aí se define qual tendência será seguida – se as vertentes mais ou menos pesadas, e por aí vai. E aí se forma o senso crítico – que não só torna os fãs de determinada banda verdadeiros especialistas, mas também permite uma visão de conjunto do estilo, das influências recebidas por cada grupo ou música, etc.



Munido desses conhecimentos, vem o prazer da caça. A ida a uma loja de discos (física, não virtual!) sempre é motivo de êxtase para o colecionador, que chega procurando determinado vinil ou CD e acaba buscando outras coisas, lembrando de outras bandas. E tudo isso dá trabalho: não são todas as lojas que organizam os álbuns em ordem alfabética, e algumas chegam mesmo a criminosamente esconder os melhores discos (sei de uma que faz exatamente isso). Passamos por alguns itens melhores, separamos um, fingimos que não vimos outro, aí achamos aquele que estávamos procurando... Aí, amigo, é só comemorar – mas será que devemos levar aquele outro? Dúvidas, dúvidas...



Outro prazer está ligado ao objeto em si. OK, hoje é muito mais fácil ouvir sons raríssimos graças à internet, é possivel até baixar aquela capinha do CD em edição limitada que circulou há mais de 40 anos sei lá onde... Quando você começa a ir atrás daqueles vinis e CDs originais, pela satisfação de ter o item original, com arte, encarte e tudo o mais, já começa a ouvir os argumentos pró-download: é mais fácil puxar tudo em MP3, sai de graça etc. Mas não adianta: nada se compara ao original. E, no caso dos lançamentos mais antigos, o discão de vinil é insuperável. Se você não tem um aparelho para tocá-los, vá atrás e não se arrependerá! E não se esqueça das reedições em CD, remasterizadas, de luxo, com livretos inéditos etc!




Carlos "Barão" Alberto Prendaglia

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A saga dos guerreiros cósmicos


É uma lástima. Infelizmente, a banda britânica de space rock Hawkwind ainda é muito desconhecida aqui no Brasil. Apesar de ter tido dois LPs lançados por estas plagas (o incontornável Warrior of the Edge of Time e o ao vivo Live 1979, além de uma faixa na coletânea nacional Metal Heroes), o grupo nunca tocou na rádio – e muito menos se apresentou por aqui. Realmente uma pena.

Formado em 1969, em pleno auge da cena psicodélica britânica, o Hawkwind buscava personificar o ideário pós-hippie da época. Ou seja, todo mundo morava junto, com muito sex, drugs and rock’n’roll, sem ligar para as limitações do “sistema”. O grande diferencial é que a banda sempre evoluiu, seja usando tecnologia, chamando grandes figuras da época para colaborar (como o escritor de fantasia e ficção científica Michael Moorcock ou o poeta Robert Calvert), ou ainda inovando nos shows, com efeitos de luzes, performances teatrais e shows de dança.


A formação clássica, em meados dos anos 70, tinha nada mais nada menos do que Lemmy Kilminster, que depois seria expulso e criaria um tal de Motörhead (que é o nome de uma música sua para o Hawkwind). No entanto, nesses mais de quarenta anos, já passaram dezenas de músicos, em passagens tumultuosas – como o batera do Cream, Ginger Baker, que gravou o disco Levitation em 1980.


Um pouco dessa história foi resgatada no livro The Saga of Hawkwind, de Carol Clerk (editora Omnibus Press, 2006). Apesar de só disponível na Gringolândia (e com chances totalmente impossíveis de sair por aqui), o livro traça um completo panorama da banda – passando inclusive pelas brigas intestinas e pelos litígios jurídicos, que colocaram dois de seus maiores cérebros pensantes – o guitarrista Dave Brock e o saxofonista Nik Turner – em campos opostos. O texto também é uma boa pedida para se ver como são as negociações com as gravadoras, as passadas de perna dos bastidores, as roubadas das turnês etc.


O livro só peca por não se focar muito no lado musical propriamente dito. Ou seja, discutir influências com mais profundidade, colocar a trajetória do Hawkwind em perspectiva com o que acontecia (hard rock dos anos 70, discoteca, punk, new wave, cena alternativa, metal, música eletrônica). O grande assunto, da metade para o final das mais de 500 páginas da obra, é a disputa dos velhinhos que passaram pelo grupo por grana, dinheiro, bufunfa, larjã. Ou, como Lemmy disse a respeito disso: “No final, os guerreiros cósmicos se preocupam mais com dinheiro”. Um banho de água-fria nos ideias representados pela banda, mas também uma lição de como rola o fantástico mundo do rock’n’roll. Recomendado.


E não se esqueça de conferir os discos da banda – especialmente da fase áurea: X In Search of Space (1971), Doremi Fasol Latido (1972), Hall of the Mountain Grill (1974), Warrior on the Edge of Time (1975), 25 Years On — Hawklords (1978), Levitation (1980), Sonic Attack (1981) ou The Chronicle of the Black Sword (1985), por exemplo. E o essencial ao vivo Space Ritual (1973). Os caras ainda estão na ativa, e os ex-integrantes também se mobilizam em vários projetos que tocam músicas da banda. Vale a pena dar uma conferida.