sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Os caminhos do metal


Dizem por aí que roqueiro não gosta de ler. Não é para menos: a oferta de livros sobre rock disponíveis nas livrarias é desanimadora. Excluindo um ou outro trabalho importante, não há muita coisa relevante. No entanto, finalmente os brasileiros têm acesso a um trabalho que passa a história do heavy metal a limpo, dos primórdios até o início do século 21. Heavy Metal: A História Completa, de Ian Christe (ARX, R$ 49,90) pretende oferecer uma visão panorâmica do gênero, comentando os principais discos e grupos que têm deixado os amplificadores no talo nas últimas quatro décadas.

Lançado originalmente em 2003 como Sound of the Beast: The Complete Headbanging History of Heavy Metal, o livro reconta de forma cronológica a trajetória do heavy metal, acrescentando junto ao texto pequenos boxes tratando de fatos-chave (ou nem tanto) para a evolução do gênero. O trabalho acaba sendo mais abrangente do que o apresentado no livro Heavy Metal: Guitarras em Fúria, do jornalista Tom Leão, que foi publicado em 1997 pela Editora 34. No entanto, a obra de Christe deverá deixar os fãs mais antigos com não uma, mas várias pulgas atrás da orelha.

O problema do livro - pelo menos para os já iniciados nos caminhos metálicos - é uma certa simplificação. OK, o autor tentou fazer um tour completo pelo gênero, chegando a dar um bom espaço para aspectos tidos como periféricos, como as bandas nórdicas de black metal ou a nova (pelo menos para quando o livro foi originalmente escrito) cena de lugares mais distantes, como o Oriente Médio. Mas há uma excessiva presença de fatores mais “pop”, como a ascensão e queda do Metallica, os casos de tribunais envolvendo Judas Priest e Ozzy Osbourne, ou a cena “metal-farofa” de Los Angeles.

Esses são aspectos do universo do heavy metal que deveriam ser tratados no livro – mas não em tantas páginas. O caso do Metallica é o que deixa esse problema mais claro: o livro pode ser encarado como uma espécie de “História do Metallica”, se você considerar os primeiros capítulos como uma espécie de introdução à banda... Ninguém está negando a importância do grupo – tanto musicalmente quanto em termos de tornar o heavy metal conhecido, e até mesmo pop; mas a atenção demasiada cobra seu preço, e outras bandas têm um espaço menor. Esse é o caso do Sepultura, que mal é citado e mesmo assim com erros (das datas de lançamento dos primeiros discos). Ou da cena da Bay Area, citada apenas em função do Metallica e do Megadeth – deixando praticamente de fora grandes grupos da “segundona”, como Death Angel.

Além disso, dois outros problemas incomodam: os sete anos desde o lançamento original do livro – o que deixou toda a evolução recente do gênero sem registro – e a tradução apressada. Lendo o livro, às vezes temos a impressão de que o texto passou por algum tradutor do Google, com expressões como “mistura” no lugar de mixagem, por exemplo. A iniciativa da ARX foi boa, mas deveria ter sido acompanhada de um trabalho de edição mais sério. Há também a questão da capa, horrível e que não diz nada. Mas quem sabe a editora se anime a trazer (de forma mais profissional, claro) outros livros sobre rock ao mercado brasileiro, como a história do Deep Purple de Michael Heatley... É esperar para ver.