terça-feira, 26 de julho de 2011

A balada dos vagabundos da Ilha Esmeralda


Há discos que definem os rumos futuros de uma banda - mas cuja importância só fica evidente anos e anos depois. O Thin Lizzy, banda irlandesa dos anos 70 e início dos 80, ficou mundialmente famosa ao combinar hard rock a um certo boogie, e deixou clássicos como The Boys Are Back in Town, Jailbreak, Rosalie, Emerald, Don't Believe a Word e tantos outros. Mas as sementes do estilão que daria o sucesso ao grupo apareceram pela primeira vez de forma mais consistente no terceiro álbum.

Gravado em 1973, Vagabonds of the Western World ainda é visto como um disco secundário do Thin Lizzy, apesar de ter The Rocker e Whiskey in the Jar, os dois primeiros grandes sucessos da banda (embora esta última tenha saído na época apenas em single, e depois teve uma versão incluída no CD). Mas o ouvinte atento descobrirá pérolas tão ou mais preciosas que essas duas. A faixa-título, por exemplo, combina misticismo celta (tão caro ao vocalista Phil Lynott) à sonoridade da banda, antecipa Emerald em uns três anos e dá margem ao virtuosismo guitarrístico de Eric Bell - que, infelizmente, deixou o grupo após este disco. Slow Blues também antecipa várias baladas de "blues pesado" que a banda faria nos anos seguintes. E a capa? Mais uma obra-prima de Jim Fitzpatrick!

O disco marca também o final da primeira fase do Thin Lizzy, iniciada com o álbum epônimo, em 1971, e que prosseguiu em 1972 com Shades of a Blue Orphanage. Era a época em que o trio, formado por Lynott, Bell e o baterista Brian Downey, batalhava um lugar ao sol, e conseguia ampliar seu público após se mudar para Londres e abrir os shows do Slade. Depois de Vagabonds of the Western World, a banda passaria a ter dois guitarristas e faria seus discos mais conhecidos, que compõem sua segunda fase: Nightlife (1974), Fighting (1975), Johnny The Fox (1976), Jailbreak (1976) e Bad Reputation (1977).

Uma dica: ao procurar Vagabonds of the Western World em CD, opte pela versão europeia de 2007, dupla. Ela traz várias faixas-bônus, lançadas em compactos na época ou apenas em coletâneas (como a insuperável Sitamoia), além de versões promocionais para rádio e aparições em programas da BBC. É verdade que essa edição não contém Whiskey in the Jar na versão de 5:45, que vinha no CD lançado na década de 90; essa faixa acabou sendo incluída na versão remasterizada de Shades of a Blue Orphanage.

Sérgio "Pirata" Siscaro

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Em busca dos bons sons


Logo que começamos a nos entender por gente, começamos a nos questionar quanto a muitas coisas – e uma delas é a música. Se a pessoa já dispõe de uma base sobre o que são os bons sons, ou então se relacionar com pessoas que lhe apresentem as indispensáveis pérolas do bom e velho rock’n’roll, o caminho já está traçado!

Quando compramos nosso primeiro disco, geralmente a escolha é feita por influência de alguém, ou algum elemento da capa, ou um som ouvido no rádio. Mas o acaso também pode contribuir; este foi o meu caso, quando um vinil veio trocado e acabei conhecendo o ótimo Slade Alive (1972), do Slade. Coloquei o disco na vitrola e fui sugado ao mundo do rock – seja por meio dos bolachões de vinil, das fitas cassete, das fitas em VHS e, mais tarde, pelo CD ou DVD, e agora dos arquivos em MP3, e por aí vai... Toda essa introdução serve para começarmos a falar do prazer que o verdadeiro roqueiro tem em ir atrás do que gosta e garimpar raridades – e não ficar atrás de modinhas do momento, ou colecionar apenas por colecionar.



Começamos a analisar as musicas, devoramos revistas especializadas em rock e aí se define qual tendência será seguida – se as vertentes mais ou menos pesadas, e por aí vai. E aí se forma o senso crítico – que não só torna os fãs de determinada banda verdadeiros especialistas, mas também permite uma visão de conjunto do estilo, das influências recebidas por cada grupo ou música, etc.



Munido desses conhecimentos, vem o prazer da caça. A ida a uma loja de discos (física, não virtual!) sempre é motivo de êxtase para o colecionador, que chega procurando determinado vinil ou CD e acaba buscando outras coisas, lembrando de outras bandas. E tudo isso dá trabalho: não são todas as lojas que organizam os álbuns em ordem alfabética, e algumas chegam mesmo a criminosamente esconder os melhores discos (sei de uma que faz exatamente isso). Passamos por alguns itens melhores, separamos um, fingimos que não vimos outro, aí achamos aquele que estávamos procurando... Aí, amigo, é só comemorar – mas será que devemos levar aquele outro? Dúvidas, dúvidas...



Outro prazer está ligado ao objeto em si. OK, hoje é muito mais fácil ouvir sons raríssimos graças à internet, é possivel até baixar aquela capinha do CD em edição limitada que circulou há mais de 40 anos sei lá onde... Quando você começa a ir atrás daqueles vinis e CDs originais, pela satisfação de ter o item original, com arte, encarte e tudo o mais, já começa a ouvir os argumentos pró-download: é mais fácil puxar tudo em MP3, sai de graça etc. Mas não adianta: nada se compara ao original. E, no caso dos lançamentos mais antigos, o discão de vinil é insuperável. Se você não tem um aparelho para tocá-los, vá atrás e não se arrependerá! E não se esqueça das reedições em CD, remasterizadas, de luxo, com livretos inéditos etc!




Carlos "Barão" Alberto Prendaglia