terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O mapa do metal


O rock é um mundo completo – e, como tal, tem seus continentes, seus oceanos, cidades perdidas, metrópoles da moda ou cafundós. Quem desembarca nesse planeta precisa de uma bússola, de um mapa – sob pena de se perder no caminho, ou ir parar na Terra dos Emos ao invés de ir à Punklândia, ao Reino do Pop ou aos Estados Unidos do Metal. Esse último, inclusive, tem um elevado grau de complexidade, com inúmeros estilos – e também demanda algum tipo de guia para o explorador iniciante.


O meu mapa foi o Livro Negro do Rock. Escrito por Leopoldo Rey (que mais tarde apresentaria programas na saudosa 97 FM, de Santo André) e Gilles Philipe, o livro havia sido lançado em fascículos na primeira metade dos anos 80, e na época veio uma edição em capa mole trazendo toda a obra. Como eu perdi o livro nessa época, só pude comprá-lo no inicio da década seguinte, quando ele (e outros velhos lançamentos da Editora SomTrês) foram distribuídos nas bancas de jornal como encalhe.


É verdade que as informações estavam com uma defasagem de pelo menos oito anos. Muita água havia rolado embaixo da Ponte do Metal, bandas que surgiram, bandas que acabaram, promessas que não se concretizaram... Mesmo assim, foi a porta que me mostrou como haviam várias bandas legais por aí, e como seus integrantes iam de uma para a outra... Nas época, eu estava começando a descobrir os links entre Deep Purple, Black Sabbath, Rainbow e Whitesnake, por exemplo; depois do livro, comecei a ver a cena rock como algo mais orgânico, mais integrado.


Além disso, o livro é um retrato da época em que o rock ainda não havia se fossilizado em “classic rock” como hoje – o cenário era formado por bandas que tinham algo a dizer, como as da (então) recente nova onda do metal britânico, ou NWOTBHM (Iron Maiden, Saxon, Venom), e não por grupos que copiam grandes sons do passado... E os próximos anos também foram bem criativos: o Livro Negro do Rock foi publicado pouco antes da explosão do Thrash Metal, tanto nos EUA (Metallica, Anthrax, Slayer) quanto na Alemanha (Kreator). Também não havia ainda aquela tendência das “voltas caça-níqueis; o Deep Purple, por exemplo, só retomaria as atividades em 1984 – e, na época do livro, três de seus integrantes seguiam com o Rainbow.


Aliás, vale lembrar algumas bandas que lançaram naquele distante ano de 1983 alguns discos hoje considerados clássicos (olha essa palavra de novo!), só para dar uma ideia do contexto no qual o livro saiu (lembrando sempre, claro, que muitas vezes os discos levavam décadas para aportar aqui no Brasil). Alguns não são puramente metálicos, mas tiveram sua cota de influência sobre o gênero: AC/DC (Flick of the Switch), Accept (Balls to the Wall), Black Flag (Everything Went Black), Black Sabbath (Born Again), Death Angel (Heavy Metal Insanity), Def Leppard (Pyromania), Dio (Holy Diver), Iron Maiden (Piece of Mind), Mercyful Fate (Melissa), Metallica (Kill'Em All), Mötley Crue (Shout at the Devil), Motörhead (Another Perfect Day), Ozzy Osbourne (Bark at the Moon), Quartz (Against All Odds), Quiet Riot (Metal Health)Rainbow (Bent Out of Shape), Ramones (Subterranean Jungle), Savatage (Sirens), Suicidal Tendencies (Suicidal Tendencies), Thin Lizzy (Thunder and Lightning ), Twisted Sister (You Can't Stop Rock 'n' Roll), Tygers of Pan-Tang (Spellbound), UFO (Making Contact), Van Halen (1984), Venom (At War With Satan) e Witchfinder General (Friends of Hell).


E o texto, então? Gostoso de ler, apesar de ter lá seus erros. Mas vá lá, temos de levar em conta o quanto era difícil o acesso à informação 30 anos atrás – sem internet, sem facilidade para comprar livros ou jornais gringos... Diante das circunstâncias, o produto final é bem caprichado, e tem um lugar de honra em qualquer estante de quem conheceu o rock nos anos 80!